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Minha trajetória na área da Saúde Mental

Muitas pessoas que vêm à consulta comigo buscam apoio em questões de natureza psíquica, emocional ou mental. Muitas vezes há uma clareza de que o problema seja dessa ordem. 

Em outros momentos, não é bem o motivo mais aparente, nem se manifesta na primeira frase que a pessoa traz. 

Pode vir naquele formato inconsciente, velado, em busca de um motivo biológico que justifique seu estado de espírito: “devo estar com problema de tireoide” ou “preciso de umas vitaminas”.

Em alguns casos, quando sacudimos essas frases, se evidenciam outras razões submersas para a consulta. E da mesma forma que rastreio adoecimentos ditos “físicos”, rastreio os de ordem “mental”. 

Entre aspas porque não se pode separar assim físico x mental, está tudo integrado e em todo ser humano há de se olhar para os aspectos todos que envolvem a vida e o processo saúde-doença.

Coloco Saúde Mental como um dos destaques do meu fazer profissional porque é uma área que invisto em me aperfeiçoar sempre. Estudar e abordar Saúde Mental é mesmo uma das minhas paixões. 

Abaixo descrevo um pouco da minha trajetória profissional que contribui para a abordagem em Saúde Mental.


A Medicina de Família e Comunidade (MFC)


A MFC é uma área ampla, e não por isso deixamos de aprofundar. Buscamos nos aperfeiçoar nos motivos de consulta mais comuns e que mais nos mobilizam. Nossa expertise vai se formando na prática e no estudo constante de acordo com o que demanda nosso público, nosso “território”.

A MFC me ensinou a olhar o ser humano a partir da abordagem sistémica. Como que a cidade, o bairro, a família, as condições financeiras, os estudos, o trabalho, cultura, influenciam na sua saúde.

E mais, como questões de raça/cor, género e a sexualidade influenciam na saúde.

Outro ponto importante que eu fui descobrindo através da Medicina de Família, e que influencia na minha abordagem em saúde mental, tem a ver com a postura ético política de não rotular o indivíduo em diagnósticos.

O fenômeno da patologização da vida e suas implicações é algo que levamos a sério e é pano para manga pra outro texto. Aqui, quero falar apenas o seguinte:



Por mais que os termos ajudem didaticamente a gente a entender alguns padrões de comportamento, a pessoa, que é única, vem antes de qualquer diagnóstico, com suas multiplicidades da diversidade humana, com sua história de vida.



Ayurveda


O curso de Terapeuta Ayurveda também trouxe descobertas importantes. Tem aquela máxima de que a gente é o que a gente come, mas, mais interessante que isso foi a descoberta de que a gente ingere não só alimento/comida, e sim tudo que chega pelos órgãos dos sentidos: pela pele, pelo ouvido, pelo nariz. 


Sobretudo, podemos nos nutrir ou nos intoxicar em emoções, pensamentos e relações.


Meditação, Alimentação, Óleos, Massagens... o universo de tratamentos da Ayurveda é um infinito, mas muito antes da prescrição de tratamento, está o raciocínio clínico a partir de uma outra racionalidade médica, que é bem diferente da Medicina Ocidental. A Ayurverda tem sua cosmologia e fisiopatogenia próprias e gosto muito dessa perspectiva oriental.

Não atendo como Médica Ayurveda, porque os 2 anos de curso, por melhor que sejam, são uma introdução a esse universo. Gosto de ler sobre e trago muitos dos princípios que tenho aprendido na Ayurveda para minha vida.

Muitas vezes converso sobre isso com os pacientes também, mas quando há um interesse em aprofundar, recomendo que busque mesmo Terapeuta ou Médic@ Ayurveda.


Psicoterapia Somática


Pelo tanto que me instiga a relação corpo-mente, resolvi iniciar formação em Psicoterapia Somática, uma abordagem humanista, para agregar à minha atuação com os pacientes, mas também para minha vida pessoal! É uma formação longa, de quatro anos, bem vivencial, incrível. 

Tem me ensinado a desconstruir e reconstruir paradigmas em um caminho que eu já vinha buscando.

Tem me ensinado sobre acessar inconsciente através, não só da fala, mas também através do corpo.


É lindo aprender a significar com o outro as mensagens do inconsciente expressas no corpo. 


Nessa formação, também tenho aprendido sobre  trauma, sobre regulação emocional, e, principalmente, como auxiliar a pessoa na busca da potência de vida. Não existe uma fórmula ou receita de bolo, mas aprendemos a caminhar junto.

Nas consultas, utilizo com os pacientes as ferramentas que vou conhecendo e me capacitando. Para além de ferramentas, o vínculo, a relação terapêutica, é o que faz toda a diferença nesse trabalho. 

Acho bom estar em movimento, em busca de conhecimento, ainda mais autoconhecimento.

Sou acompanhada em psicoterapia desde os 20 anos, entre idas e vindas, profissionais e abordagens. Sempre indico psicoterapia aos pacientes em sofrimento psíquico e construímos na consulta alguns planos e pactos em busca de melhora. 

Essa terapêutica não medicamentosa é construída em conjunto e individualizada. Pode ir de “entrar em um curso de música” a “fazer aquela viagem que sempre quis”, meditação, exercício físico, etc. Isso eu não prescrevo a partir das minhas ideias, mas a partir do que localizarmos juntos que é um possível caminho com significado para aquela pessoa. 

Difícil quando não há lá muita governabilidade, quando o contexto é muito escasso e opressor, mas juntos procuramos frestas e rachaduras.


Psiquiatria


Tenho feito uma Pós-graduação em Psiquiatria para atualização e aperfeiçoamento.

Não costumo compartilhar do modelo hegemônico de explicação do adoecimento psíquico da psiquiatria. O que é esse modelo hegemôgico? É o mais comum, tido como verdade, com enfoque muito biológico e patologizante, que reduz a pessoa à doença.

No entanto, quando fico um tanto frustrada com o que a psiquiatria hegemônica me apresenta, lembro de grandes mestres que foram psiquiatras e lembro que nem só dessa ciência cartesiana, pragmática, vive a psiquiatria.

Houve e há quem, a partir da psiquiatria, tenha buscado caminhos com os quais afino.


Prescrição de medicamentos em psiquiatria


Claro, não esqueço a importância dos medicamentos, mas dou o seu devido lugar. Prescrevo quando necessário.

Mola propulsora? Alívio necessário? As metáforas variam e o tratamento medicamentoso pode ser mesmo uma ajuda necessária em alguns casos, mas não é uma pílula milagrosa. 

Afinal, tristeza persistente, dor, vazio, crenças, traumas, não se restringem à química cerebral.

Quando eu indico, conforme os protocolos médicos, e o paciente decide, após muito diálogo, que precisa dessa ajuda, ela é bem-vinda. 


É isso! Minha abordagem em Saúde Mental ou Psiquiatria bebe dessas formações e parte dessas perspectivas: sistêmica, integrada, não patologizante, profunda. 


Espero ter esclarecido um pouco como atuo enquanto Médica de Família no campo de Saúde Mental. E convido, quem se sentir convocadx, a iniciar esse acompanhamento. 

Finalizo com uma frase que sempre escuto na formação de Psicoterapia do CPSB:


Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá acompanhado.  (Provérbio Africano)



 
 
 

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